22 dezembro 2012

O centro


                             

Em Jerusalém, a sensação humana esporádica, porém universal, de sonhar sem poder interpretar o sonho, é mais forte que em qualquer outro lugar, e ainda mais desde que a cidade realmente existe. Mas é assim que a pessoa se sente quando no exílio. Pois o exílio é uma espécie de sonho. Quando o Tehilim afirma que, ao retornar, "seremos como sonhadores" (Tehilim 126:1), significa que será como se estivéssemos despertando de um pesadelo.
O sentimento de que estamos vagando em um sonho inexplicado torna-se muito mais forte quanto maior a freqüência do sonho. A Lei Judaica analisa perfeitamente esse ponto. Afirma que quando vemos Jerusalém pela primeira vez, devemos rasgar nossas roupas devido ao luto, e quando vemos as ruínas do Templo, devemos rasgá-las novamente.
Pois a Jerusalém de hoje não é a verdadeira Jerusalém de nossos sonhos e nossas ânsias. Falamos tanto sobre "retorno" em nossa liturgia e nossa poesia porque uma profunda crise ocorreu com nosso exílio de Jerusalém. Não somente fomos expulsos de nosso lar, como também a Shechiná, a presença de D'us, exilou-se de nós. Poder-se-ia pensar que isso afeta somente aos judeus; afinal, foi o Templo judaico e sua capital a serem destruídos, primeiro em 423 AEC e depois em 70 EC. Mas na realidade, com este exílio o mundo inteiro está em crise, porque a presença de D'us afeta a todos, assim como Sua ausência.
A Shechiná, a presença de D'us, exilou-se de nós. Poder-se-ia pensar que isso afeta somente aos judeus: mas na realidade, com este exílio o mundo inteiro está em crise, porque a presença de D'us afeta a todos, assim como Sua ausência
A ausência de D'us - a ocultação de D'us - tem desestabilizado profundamente o mundo. Quando D'us voltar a Jerusalém, o mundo todo recuperará sua estabilidade. E assim nossas três preces diárias para D'us reconstruir Jerusalém na verdade significam "Ponha o mundo de volta em seu lugar."
Um exemplo simples expressa bem este conceito. Todos nós usamos artefatos eletrônicos. Se removermos as pilhas, nada funciona; quando as recolocamos, tudo trabalha perfeitamente outra vez. Quando dizemos: "Que Jerusalém seja reconstruída!" estamos pedindo a D'us para renovar nossa conexão - para colocar as pilhas! - para que tudo comece a funcionar novamente. Voltar a Sion não é uma questão de geografia, mas de conexão. Restabelecer esta conexão colocará o mundo outra vez no lugar.
Vimos portanto que a ressurreição de Jerusalém deverá ocorrer em dois planos - espiritual e material. A respeito de ruas e casas, é fácil reconstruir Jerusalém. Porém reconstruí-la adequadamente significa corpo e alma e espírito - seus edifícios, ruas, água e árvores, e internamente. Como declarou o Rei Salomão: "Vi servos sobre cavalos, e príncipes caminhando como servos em cima do chão" (Cohêlet 10:7). Desordem interna é uma das definições de exílio, e quando a ordem correta não é respeitada, nada é realmente construído. Embora a cidade possa parecer real, é apenas uma construção imaginária. Daí vêm nossos sentimentos de estarmos vivendo em um sonho, mesmo quando estamos lá.
Então, como pode Jerusalém ser verdadeiramente reconstruída? Nossa liturgia nos dá algumas pistas. Antes de mais nada, não podemos falar sobre Jerusalém sem falarmos de amor, nos sentimentos de Israel pela Cidade Sagrada, mas também na maneira pela qual o retorno deve acontecer. Quando dizemos em nossa prece diária: "A Jerusalém, Tua cidade, com compaixão retornaste" expressamos nosso desejo para que o retorno seja suave. Pois como nos relembra Yechezkel, poderia também ser catastrófico - "Eu te governarei com uma mão poderosa... e com ira transbordante, como uma tempestade pode criar uma montanha." (Yechezkel 20:33)
Eis por que Jerusalém é sempre uma história de amor, como vemos em grande parte de nossa liturgia e também na poesia. O grande poeta espanhol Yehudá Halevi chama Jerusalém de "plenitude de beleza" e afirma que toda a perfeição está unida dentro dela. Em outra canção de amor, Lecha Dodi - "Venha, minha amada" - que cantamos para dar as boas vindas ao Shabat, Jerusalém é comparada a uma noiva, enfeitada com adornos, esperando nosso retorno.
Nossa volta a Jerusalém deve ser também uma verdadeira reunião, e não apenas um encontro. Jerusalém é uma cidade muito sensível - uma cidade de paz, mas também um local fervilhante de ódio, devido ao constante risco de contenda, que infelizmente sobreviveu até os dias de hoje! Esta irritação brota da hipersensibilidade da cidade. Jerusalém é como o lugar onde todos os nervos se juntam. Quando você o toca, tudo começa a estremecer.
Lidar com uma área sensível exige delicadeza especial. Devemos ser cuidadosos lá, com a cidade e uns com os outros. Daí a máxima talmúdica: "Aqueles que nasceram em Jerusalém receberão uma recompensa especial, mas aqueles que amam Jerusalém também a receberão," e o versículo de Yeshayáhu (66:10), "Rejubile-se com Jerusalém... todos os que a amam."
Terceiro, a verdadeira reconstrução de Jerusalém implica na reconstrução do Templo. Há uma progressão. Primeiro, D'us novamente habitará Jerusalém; depois, reconstruiremos Sua casa e O serviremos lá. Talvez isso seja por que Yeshayáhu compara Jerusalém e Israel a uma mulher triste, abandonada pelo marido: antes de mais nada, volta para casa! Depois disso, veremos.
Então mais uma vez, a mulher abandonada pode ser nós mesmos: quando a esposa abandonada sai para um passeio, quando ela' está em algum outro lugar, ela sente menos a ausência do marido. Sente-se mais forte ao voltar para casa. E assim nosso anelo é maior talvez quando estamos fisicamente na cidade mas a Shechiná ainda não está. A cidade de ouro ornamentada em sua luz incomparável faz-nos ansiar ainda mais pela Sagrada Fonte da luz.
Yeshua nos falou acerca de tais coisas. É bonito quando em meio ao seu discurso, Yohan BarZacharya vaticina uma identidade messiânica:”Eis o Cordeiro de Elohim que tira o pecado do mundo!”. Dois de seus talmidim logo em meio a curiosidade implacaram uma perseguição sadia ao Cordeiro, que logo que percebeu essa perseguição voltou para os talmidim de Yohanan e lhes indagou: “O que vocês estão procurando?” Essa indagação tem implicações profundas e íntimas. O que realmente nós estamos querendo? O que é realmente importante para cada um de nós? Essa pergunta foi ouvida primeiro pelos talmidim mas ela ecoa além da cortina do tempo chegando o seu eco gutural até nosso tempo. O Que realmente queremos? Os jovens responderam com uma outra pergunta: Rabi, onde o senhor mora? É isso mesmo que queremos saber? Onde é a casa do Salvador? Yeshua não dá uma resposta clara e concreta, ele lança o convite:” Venham comigo e vocês vão ver onde eu moro”. E ali se iniciava a grande viagem, cujo objetivo é a casa de Yeshua, no coração de Elohim.  
Desde o sonho de Yaacov até o presente, Jerusalém sempre esteve entre o Céu e a Terra, um lugar onde o sublime está em constante contato com o mundano. Por um lado, as pessoas cospem no chão; por outro, vivem como se estivessem em um perpétuo sonho. Ambos os aspectos são reais; nenhum deles conta toda a história. Pois agora, vivemos no exílio e oramos, uma vez mais, pelo retorno.

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