16 maio 2011

CSI JESUS

CSI Jesus
Novas descobertas trazem à tona um homem simples, talvez analfabeto, difícil de ser rastreado e longe de se sentir uma entidade poderosa e onisciente. Como ficam as crenças cristãs diante desse Jesus histórico?
Reinaldo José Lopes

De volta ao laboratório: Cientistas investigam a vida de Jesus e trazem novas hipóteses, que vão da possibilidade de o nascimento não ter se dado em Belém até a provável inexistência do homem que teria resgatado o seu corpo
É um bocado irônico que o personagem mais influente da História também seja um dos mais misteriosos. Jesus de Nazaré não tem data de nascimento ou morte registrada com segurança (embora seja possível estimá-las com margem de erro de dois ou três anos). Não deixou nada escrito de próprio punho (há até quem argumente que ele provavelmente era analfabeto). Não restou um único artefato do qual se possa dizer com certeza que pertenceu a ele. Os relatos de seus seguidores, escritos entre duas e seis décadas após a morte na cruz, falam com riqueza de detalhes de um período curtíssimo de sua vida adulta, elencando seus atos e ensinamentos, mas nos deixam no escuro sobre a maior parte de sua infância e adolescência, suas angústias pessoais e seu relacionamento com amigos e familiares.
A situação pode soar desesperadora ao extremo para um historiador que, sem recorrer à fé cristã, queira reconstruir a vida e a mensagem desse judeu singular. Mas a situação é menos complicada do que parece. 
Por um lado, é preciso reconhecer que os Evangelhos, principais narrativas sobre Jesus na Bíblia cristã, não são livros históricos no sentido moderno do termo. "Os Evangelhos são uma combinação de elementos históricos e interpretações feitas posteriormente no âmbito das comunidades cristãs", afirma o padre Léo Zeno Konzen, coordenador do curso de teologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (RS).


É tudo mentira? O ossuário de Tiago (acima) tem inscrição falsa, feita no século 21. Estudiosos atuais questionam a existência de José de Arimatéia (imagem abaixo)
Trocando em miúdos: os evangelistas (conhecidos entre nós pelos títulos de Mateus, Marcos, Lucas e João, que não devem ter sido os autores dos textos) estavam tão preocupados em relatar o que tinha acontecido com Jesus e os apóstolos 50 anos antes quanto em tornar esses fatos relevantes para seu público, formado por cristãos nascidos depois que seu Mestre morrera na cruz. A boa notícia é que a leitura crítica dessas narrativas é capaz de resgatar grande parte da vida terrena de Jesus.

"José de Arimatéia Apoiando o Cristo Morto", de Rogier van der Weyden (1399 ou 1400-1464)
O retrato que emerge desse esforço é, em certos aspectos, familiar para qualquer cristão, ao mesmo tempo em que humaniza o Nazareno. O chamado Jesus histórico é uma figura humilde, que coloca sua mensagem - o anúncio da chegada do Reino de Deus - acima de qualquer preocupação com sua própria importância. Não se comporta como uma entidade superpoderosa ou onisciente. E coloca em primeiro lugar a história e o destino do povo de Israel, ao qual pertence. É um Jesus que pode ajudar os cristãos a repensarem a origem de sua própria fé - mas dificilmente é uma ameaça a ela, a menos que se acredite que todo versículo dos Evangelhos é verdade literal, como se fosse um filme do que aconteceu no ano 30 d.C.
 
Círculo próximo: Provavelmente, Cristo escolheu os doze apóstolos para simbolizar o número de tribos de Israel espalhadas pelo mundo e que Deus deveria reunir no fim dos tempos
Fraudes modernas
Volta e meia ressurge a esperança de que os Evangelhos não serão mais a principal (ou única) fonte sobre a vida de Jesus. Há quem coloque todas as suas fichas em achados arqueológicos, como inscrições, túmulos e textos antigos. Dois exemplos recentes não tiveram um resultado dos mais gloriosos.
Em 2002, foi a vez do chamado Ossuário de Tiago, uma caixa de pedra feita originalmente para conter o esqueleto de um homem que morreu em Jerusalém no século 1. No artefato havia uma inscrição em aramaico (língua aparentada ao hebraico que era a mais falada no tempo de Cristo), com os dizeres: "Tiago, filho de José, irmão de Jesus".
O ossuário, afirmavam alguns especialistas, teria pertencido a Tiago, irmão ou primo de Jesus que liderou a igreja cristã de Jerusalém até o ano 62 d.C. Análises mais detalhadas feitas posteriormente comprovaram que o pedaço crucial da inscrição ("irmão de Jesus") foi adicionado por um falsificador do século 21.
Um bafafá parecido cercou, em 2006, novas análises de outros ossuários de Jerusalém, originalmente desenterrados nos anos 1980. Num mesmo jazigo familiar estavam enterrados "Jesus, filho de José", Maria (a mãe dele?), Mariamne (supostamente, Maria Madalena) e outras pessoas cujos nomes lembram os de personagens do Novo Testamento. Um documentário produzido por James Cameron (ele mesmo, o criador de "Titanic") defendeu que os ossuários eram a prova de que Jesus tinha se casado com Maria Madalena. Os defensores da tese argumentam que seria muito improvável a ocorrência conjunta desses nomes na Jerusalém do século 1 d.C. sem que houvesse uma ligação com Jesus de Nazaré. Nenhum estudioso sério do Jesus histórico, contudo, dispôs-se a comprar a idéia - calcula-se que, só em Jerusalém, teriam vivido mais de mil "Jesus, filhos de Josés" nessa época.
Esses fracassos talvez tenham uma explicação muito simples: a pessoa de Jesus pode ser "invisível" para a arqueologia. "E não só ele como quase toda a primeira e a segunda geração de cristãos. São pessoas periféricas, gente muito simples, de origem rural", afirma André Leonardo Chevitarese, historiador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Romanos e judeus de classe alta construíam palácios e tinham selos (carimbos) pessoais feitos com metal ou pedra preciosos; carpinteiros e pescadores da Galiléia (a terra natal de Jesus, no norte de Israel), por outro lado, podiam passar a vida inteira usando apenas materiais perecíveis. Chevitarese, aliás, é cético até em relação à idéia de um enterro formal para Jesus.
"Em todo o mundo romano, o costume era abandonar o cadáver na cruz, para ser comido por abutres ou cães", lembra o historiador da UFRJ. Ele também diz ser suspeita a figura de José de Arimatéia, judeu rico e simpatizante de Jesus que teria obtido seu corpo e organizado o sepultamento, segundo os Evangelhos. "Camponeses como os seguidores de Jesus não teriam como se dirigir a Pilatos para exigir o corpo. Assim, os evangelistas têm o problema de explicar o sepultamento de Jesus e usam a figura de Arimatéia, que praticamente cai de pára-quedas na narrativa", diz. Por outro lado, há pelo menos um registro de crucificado judeu que teve um sepultamento digno - Yehohanan (João), filho de Hagakol, cujo ossuário foi descoberto por arqueólogos israelenses em 1968. O osso do calcanhar de Yehohanan ainda continha o cravo usado para pregá-lo na cruz.
EXISTÊNCIA COMPROVADA?
Ateus ou religiosos, os estudiosos concordam: a teoria de conspiração de que Jesus não teria passado pela Terra é uma tremenda bobagem
Viciados em teorias da conspiração adoram a idéia: Jesus nunca teria existido. As histórias sobre sua vida, morte e ressurreição seriam mera colagem de mitos egípcios e babilônicos, com pitadas do Antigo Testamento para dar um saborzinho judaico. Na prática, Cristo não seria mais real do que Osíris ou Baal, deuses mitológicos que também morreram e ressuscitaram. No entanto, para a esmagadora maioria dos estudiosos, sejam eles homens de fé ou ateus, a tese não passa de bobagem. A figura de Jesus pode até ter "atraído" elementos de mitos antigos para sua história, mas temos uma quantidade razoável de informações historicamente confiáveis, englobando pistas de fontes cristãs, judaicas e pagãs. Começamos, no Novo Testamento, com as cartas de São Paulo, escritas entre 20 e 30 anos após a crucificação do pregador de Nazaré. Cerca de 40 anos depois da morte de Jesus, surge o Evangelho de Marcos, o mais antigo da Bíblia; antes que o século 1 terminasse, os demais Evangelhos alcançaram a forma que conhecemos hoje. A distância temporal, em todos esses casos, é mais ou menos a mesma que separava o historiador Heródoto da época da guerra entre gregos e persas, que aconteceu entre 490 a.C. e 480 a.C. - e ninguém sai por aí dizendo que Heródoto inventou Leônidas, o rei casca-grossa de Esparta.
Outra fonte crucial é Flávio Josefo, autor de "Antiguidades Judaicas", também do século 1. O texto sofreu interferências de copistas cristãos, mas é possível determinar sua forma original, bastante neutra: Jesus seria um "mestre", responsável por "feitos extraordinários", crucificado a mando de Pilatos, cujos seguidores ainda existiam, apesar disso. Duas décadas depois, o historiador romano Tácito conta a mesma história básica, precisando que Jesus tinha morrido na época de Pilatos e do imperador Tibério (duas referências que batem com o Novo Testamento). Esses dados mostram duas coisas: a historicidade de Jesus e também sua relativa desimportância diante das autoridades romanas e judaicas, como um profeta marginal num canto remoto e pobre do Império Romano
A mão santa do homem: as curas realizadas por Jesus não seriam meros atos de bondade e compaixão; estariam mais para demonstrações de que o Reino de Deus já estava chegando a Israel
Homem invisível
Fora algum tremendo golpe de sorte, o máximo que a arqueologia pode fazer é iluminar a vida cotidiana no tempo de Jesus (indicando em que tipo de casa ele vivia ou que modelo de taça ele teria usado para beber vinho com seus discípulos) ou como era a religião judaica naquela época. Esse provavelmente é o caso de um misterioso texto do século 1 a.C., pintado numa pedra e analisado por Israel Knohl, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Em julho passado, Knohl apresentou sua interpretação do texto (o qual não está inteiramente legível e, por isso, tem de ser reconstruído hipoteticamente): ele mencionaria a morte e ressurreição de um Messias décadas antes do nascimento de Jesus. Ainda que a interpretação esteja correta, é difícil ver como ela mudaria nossa compreensão sobre as origens do cristianismo. Afinal, um dos grandes argumentos dos seguidores de Jesus é justamente que seu retorno dos mortos já tinha sido previsto nas profecias judaicas.
Se a invisibilidade arqueológica não ajuda, a imaginação e as preocupações modernas também atrapalham um bocado. No esforço de tornar o Jesus histórico relevante para a nossa época, ou como forma de polemizar com as atuais religiões cristãs, pesquisadores como o historiador irlandês John Dominic Crossan defendem que Cristo não se preocupava com a vida eterna ou o Juízo Final, mas pregava uma ética totalmente centrada no aqui e no agora, influenciada pela cultura grega. Outros enfatizam seu lado de revolucionário político, ou mesmo o retratam como uma espécie de mago itinerante, cujos milagres não passavam de truques. Na avaliação de Chevitarese, isso equivaleria a esvaziar Jesus. "Não se pode tirá-lo do seu contexto judaico nem eliminar seu lado apocalíptico e escatológico [o de um profeta que espera o final dos tempos e a consumação da história humana]", diz o historiador da UFRJ. Isso não quer dizer, por outro lado, que a pregação de Jesus fosse completamente isenta de idéias sobre a sociedade e a política.
"A própria escatologia judaica também tem um substrato político", afirma Luiz Felipe Ribeiro, professor da pós-gradua-ção em história do cristianismo antigo da Universidade de Brasília (UnB). Ele cita um exemplo cristão, o Livro do Apocalipse, que pode ser lido tanto como uma previsão do fim do mundo quanto como um ataque contra a opressão romana que afetava os cristãos.Reinado de Deus
Para John P. Meier, professor da Universidade Notre Dame (EUA) e autor da monumental série de livros "Um Judeu Marginal" (ainda não concluída) sobre o Jesus histórico, o pregador de Nazaré resume e mistura o espiritual, o social e o político na frase-chave de seu anúncio profético: o "Reino de Deus". Essa é a tradução mais comum em português do grego "basilêia tou Theou", cujo sentido provavelmente está mais para "o Reinado de Deus" - a idéia de que Deus estava prestes a intervir dramaticamente no mundo, resgatando seu povo de Israel, instaurando seu domínio de justiça e paz e incluindo até os povos pagãos nesse Universo transformado. "Isso explica por que Jesus parece relativamente despreocupado em relação a problemas sociais e políticos. Ele não estava pregando a reforma do mundo; estava pregando o fim do mundo", escreve Meier. No entanto, em vez de se concentrar nos tormentos que aguardariam os pecadores que não se arrependessem, o profeta da Galiléia ressaltava que o Reinado de Deus era um poder misericordioso, aberto a todos. Não é à toa que algumas autoridades judaicas ou o grupo dos fariseus (algo como "separados", em hebraico) ficavam escandalizados com o lado festivo da vida de Jesus e seus discípulos. Afinal, eles não hesitavam em comer e beber com cobradores de impostos, prostitutas e outros "pecadores notórios" da sociedade israelita, como sinal da proximidade e da inclusão do Reino.
"Proximidade", aliás, talvez não seja a palavra exata: ao mesmo tempo em que Jesus via o Reinado de Deus como uma promessa a se realizar no futuro próximo, também insinuava que esse reino já estava presente no ministério do próprio Cristo, diz Meier. "As curas e os exorcismos realizados por Jesus não seriam, portanto, meros atos de bondade e compaixão: estariam mais para demonstrações dramáticas de que o Reino de Deus já estava chegando a Israel", afirma o pesquisador. Não dá para forçar a mão de Deus, diz Jesus: seu Reinado é um ato espontâneo de misericórdia, voltado não para quem o merece, mas para quem mais precisa dele.
Barrados no baile
Mais importante ainda, Jesus se apresenta como o mediador para os que querem participar do Reinado de Deus: rejeitar sua mensagem equivale a rejeitar a ordem divina. E, como registram os Evangelhos, a proclamação é voltada exclusiva ou principalmente a judeus. Não é à toa que ele escolhe os Doze Apóstolos (provavelmente simbolizando as doze tribos de Israel, espalhadas pelo mundo, que Deus deveria reunir no fim dos tempos) e ordena que eles se dirijam apenas às "ovelhas perdidas da casa de Israel". Para Jesus, a imagem desse Reino de Deus consumado é a de um banquete - e, paradoxalmente, ele chega a afirmar que alguns de seus compatriotas judeus, os que não o aceitam, poderão ser os barrados no baile, enquanto gente "do Oriente e do Ocidente" - os pagãos - acabam sendo incluídos.
É possível extrair essas linhas gerais da missão de Jesus do material contido no Novo Testamento, mas é bem mais complicado afirmar se, durante sua vida terrena, Cristo considerava ser Deus encarnado, como defende o dogma cristão, ou mesmo se ele tinha consciência plena de que sua morte na cruz serviria para redimir a humanidade.
O interessante, afirma Chevitarese, é que os textos do Novo Testamento parecem mostrar a convivência de várias visões sobre como e quando os cristãos consideravam que Jesus teria assumido seu status de Cristo, ou seja, de "ungido" (escolhido) e filho de Deus. "Para Paulo [autor dos textos provavelmente mais antigos, datados por volta do ano 50], Jesus é o Cristo porque ressuscitou. O Evangelho de Marcos traz esse papel já para o batismo de Jesus feito por João Batista. Os Evangelhos de Mateus e Lucas recuam isso para o nascimento dele, enquanto João vê Cristo como preexistente ao próprio mundo."
Como judeu, seria impensável para Jesus se colocar publicamente como igual a Deus, afirma Luiz Felipe Ribeiro. "Agora, isso não quer dizer que não houvesse uma autocompreensão de Jesus na qual ele se via como mais do que humano, uma autocompreensão messiânica, digamos." Seria essa uma possível explicação para o misterioso título "Filho do Homem", aparentemente empregado por Jesus para designar a si mesmo. Esse personagem aparece em vários escritos apocalípticos judaicos, muitos dos quais surgidos pouco antes do nascimento de Cristo.
Humano: se tivesse consciência da própria divindade, Jesus teria sido batizado por alguém como João Batista?
Constrangimento
Essas incongruências só são conhecidas porque os Evangelhos preservam uma trilha de pistas sobre o lado humano de Jesus. Tais pistas fortalecem o chamado critério do constrangimento. A idéia é que os evangelistas não inventariam passagens capazes de lançar dúvidas sobre o poder ou onisciência de Jesus. O caso clássico é o batismo de Cristo por João Batista no rio Jordão, afirma Emilio Voigt, doutor em Novo Testamento e professor da Escola Superior de Teologia de São Leopoldo (RS). "Se o batismo de João é para o arrependimento [dos pecados], por que Jesus precisaria ser batizado? Como Jesus, o Messias, poderia ser batizado por alguém inferior a ele?", diz o pesquisador. Segundo Voigt, a tradição cristã resolve isso por meio do "testemunho" de João - afirmações do profeta de que ele teria vindo apenas para proclamar a chegada de Jesus e de que, na verdade, não seria digno de batizá-lo. Uma série de outros eventos constrangedores aparece nos Evangelhos: os parentes de Jesus e os moradores de Nazaré o rejeitam como profeta, ele diz que "somente o Pai" conhece a hora da chegada do Reino, teme a aproximação da morte e, pregado na cruz, pergunta por que Deus o teria abandonado.
Homem bruto
Levando tudo isso em consideração, a fé cristã pode sair abalada ao confrontar o Jesus histórico? Os especialistas apostam que esse risco é menor do que parece. "A pesquisa histórica ajuda a compreender a atividade de Jesus e a contextualizar a fé. Pode ameaçar alguns dogmas eclesiásticos, mas não a fé propriamente dita", afirma Voigt, que também é pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IELCB).
"Creio que o processo de formação das pessoas de fé cristã deve ajudar a perceber a riqueza que se encontra no processo de interpretar os acontecimentos. Não podemos ler a Bíblia ao pé da letra. Como pessoas de fé, nossos antepassados vivenciaram processos muito criativos de leitura dos acontecimentos, atribuindo-lhes significados que, à primeira vista, não eram perceptíveis nem imagináveis. A Bíblia toda foi construída assim", pondera o padre Léo Konzen.
"Apesar de ser a personificação do Divino, Jesus era um homem bruto, pobre, tão comum que dependia de muita oração e da ação do Espírito Santo para realizar feitos. Seria muito fácil se Ele morresse na cruz tendo a certeza de que era eterno. Mas era homem e não tinha uma memória divina", diz René Vasconcelos, autor do blog Papo de Teólogo e membro da denominação evangélica Assembléia de Deus.
Essa, aliás, é uma das pedras fundamentais da fé de quase todas as igrejas cristãs: Jesus é verdadeiro Deus, mas também é verdadeiro homem. A primeira parte da frase ainda não pode ser comprovada ou refutada pela pesquisa histórica, mas a segunda também é capaz de tornar Jesus relevante para crentes - e até para agnósticos ou ateus - durante muito tempo ainda.
VÁ F U N D O
PARA LER

• Um Judeu Marginal, de John P. Meier. Imago
• Quem É Quem na Época de Jesus, de Geza Vermes. Record
• Jesus de Nazaré – Uma Outra História, de André Chevitarese, Monica Selvatici e
Gabriele Cornelli. Annablume

PARA NAVEGAR
*Conteúdo fornecido pelo G1, o portal de notícias da Globo (www.g1.com.br). Veja complemento especial para esta reportagem no site

Onde Jesus nasceu, cresceu, pregou e morreu
Entre historiadores, há um consenso: seus últimos dias e a crucificação aconteceram em Jerusalém. Conheça as evidências mais aceitas quanto aos demais passos da vida do homem
SÉFORIS>>> Metrópole da época: era um centro importante na Galiléia dos tempos de Cristo, mas rebeliões destruíram a cidade
CAFARNAUM>>> Trabalho e aprendizado: vilarejo pobre habitado principalmente por pescadores, foi o destino escolhido por Jesus logo depois de ter deixado a sua Nazaré natal
NAZARÉ>>> O berço: segundo o Novo Testamento, José e Maria nasceram ali. Para estudiosos contemporâneos, Jesus também
RIO JORDÃO>>> Água benta: segundo os estudiosos, os cristãos têm mais é que manter o hábito de realizar batismos ali, onde Jesus passou pelo mesmo ritual
JERUSALÉM>>> O fim: cidade foi o palco dos últimos dias de vida de Jesus Cristo, da sua crucificação e da primeira comunidade cristã
MAR MORTO>>> Centro de documentação: localizada nas suas margens, a cidade de Qumran abrigou os manuscritos produzidos entre 250 a.C. e o período em que Cristo viveu
BELÉM>>> Pista falsa?: criada em cerca de 3000 a.C., foi ocupada por gregos e, a partir de 65 a.C., por romanos. Estudos sugerem que Jesus não teria nascido nessa cidade
O homem, o mito
Décadas de investigação revelam detalhes surpreendentes sobre a história de Cristo, como seu verdadeiro local de nascimento, sua relação com Maria Madalena e a veracidade de seus milagres
“Adoração das Crianças”, de Gerard Van Honthorst (1590-1656)
1>>>Nascimento: Cristo nasceu antes de Cristo. Os próprios Evangelhos indicam uma vinda ao mundo no fim do reinado de Heródes, o Grande, por volta do ano 5 a.C. Nosso calendário está, portanto, alguns anos atrasados, por um erro de cálculo medieval
2>>>Pais: há consenso de que são Maria e José, o carpinteiro (e/ou construtor: a palavra grega comporta os dois sentidos). Jesus teria herdado a profissão do pai
3>>>Terra natal: Lucas e Mateus não se entendem sobre como a família de Cristo teria chegado a Nazaré, na Galiléia (norte de Israel). É mais provável que a história do nascimento em Belém tenha sido criada mais tarde, para associar Jesus às profecias sobre o Messias
4>>>Família: o dogma católico sobre a eterna virgindade de Maria levou teólogos a interpretar os "irmãos" de Jesus citados nos Evangelhos como seus primos, mas é mais provável, pelo sentido do texto grego, que Maria e José tenham mesmo tido outros filhos
5>>>Estado civil: solteiro e sem filhos. Essa é a situação marital mais provável de Jesus, a julgar pelas muitas referências à sua família, mas nenhuma a mulher e filhos. Tampouco há provas confiáveis de que Maria Madalena fosse algo mais que sua discípula
6>>>Batismo: Jesus certamente foi batizado por João Batista no rio Jordão: os evangelistas jamais criariam uma história embaraçosa para seu mestre, uma vez que o batismo de João servia para a remissão dos pecados - algo supostamente supérfluo para o Filho de Deus
7>>>Mensagem: o centro da pregação de Jesus era o "Reino de Deus" (para ser mais preciso, o "Reinado de Deus"): a idéia de que Deus estava prestes a iniciar uma nova fase na história do povo de Israel e da humanidade e de que o próprio Jesus era o principal arauto
8>>>Milagres: até fontes não-cristãs falam de Cristo como "responsável por atos extraordinários", entre os quais a cura de doentes. Para Jesus, tratava-se de mais um sinal da proximidade do Reinado de Deus
9>>>Exorcismos: é difícil separar as curas operadas por Jesus dos exorcismos que praticava. Nem seus opositores judeus duvidavam desses atos. Para Cristo, sua vitória contra forças demoníacas mostrava que Deus estava agindo através dele
10>>>Seguidores: Jesus aparentemente chamava indivíduos específicos para segui-lo, eventualmente exigindo que eles abandonassem seu emprego, sua cidade e até sua família para acompanhá-lo. Doze desses escolhidos formaram um círculo interno de seguidores, provavelmente representando as doze tribos de Israel, que seriam reconstituídas por Deus
“A prisão de Cristo”, Caravaggio (1571-1610)
11>>>Traição: um dos doze apóstolos, Judas Iscariotes (o significado do sobrenome é nebuloso; podia se referir a "homem de Keriot", cidade da Judéia), teria entregado Jesus. Os evangelistas provavelmente não inventariam isso: se Jesus fosse onisciente, por que escolheria um apóstolo que iria traí-lo?
12>>>Crucificação: diversas fontes não-cristãs concordam com os Evangelhos. Cristo morreu crucificado a mando de Pôncio Pilatos, que governou a Judéia do ano 26 ao 36. A data mais provável para a execução de Jesus é o ano 30Apócrifos: muito barulho por nada
Para especialistas, esses escritos perdem importância quando se constata que eles tiveram como base os Evangelhos canônicos e seguiram o gnosticismo
O menino Jesus usa seus superpoderes para matar um amiguinho e dar vida a passarinhos de barro; uma parteira anuncia que, após o parto de Cristo, a virgindade de Maria foi milagrosamente restaurada; Judas é um bom sujeito, que só traiu seu mestre quando o próprio pediu; Maria Madalena e Jesus vivem aos beijos, e a ex-endemoninhada é a discípula favorita do Messias. Bem-vindo ao maravilhoso mundo dos Evangelhos apócrifos, textos sobre a vida de Jesus que não foram incluídos no cânon, o conjunto de livros oficialmente aprovados pelo cristianismo.
Há pesquisadores que vasculham esses livros, muitos dos quais em estado fragmentário, em busca de informações valiosas que não teriam sido preservadas (ou teriam sido deliberadamente varridas para debaixo do tapete) pelos evangelistas oficiais. O esforço vale a pena? O mais provável é que não. A opinião é de John P. Meier, autor da aclamada série de livros "Um Judeu Marginal". O argumento de Meier é simples: é praticamente impossível demonstrar que os evangelhos apócrifos mais populares entre os historiadores, como o de Tomás e o de Pedro, não tenham, na verdade, usado como base os Evagelhos canônicos, os bons e velhos Mateus, Marcos, Lucas e João.
Estruturas literárias básicas, como a ordem dos ditos de Jesus, parecem seguir de perto os textos canônicos. Além disso, a datação dos apócrifos aponta para uma composição décadas ou até séculos depois dos Evangelhos oficiais. E há alguns detalhes teológicos suspeitos nas narrativas apócrifas: muitos deles seguem o chamado gnosticismo, uma vertente esotérica do cristianismo primitivo que considerava o mundo material uma esfera corrompida e naturalmente ruim da existência e pregava o acesso a um conhecimento secreto para se libertar dele. A importância do apóstolo Tomé ou de Maria Madalena nos textos gnósticos provavelmente não tem a ver com o papel histórico desses personagens, mas com o uso deles como contraponto aos sucessores de apóstolos como Pedro e Paulo, principais líderes das comunidades cristãs após a morte de Jesus.

12 maio 2011

Afinal, o que vai acontecer com a Terra em 2012?

Planetas errantes em rota de colisão com a terra, chegada de ETs, tempestades solares, profecias inventadas... some todos esses ingredientes e construa a teoria mais popular da internet. O que há de verdade (se é que há alguma) no chamado apocalipse Maia
Você temeria o futuro se levasse a vida de Tom Cruise, com mais de US$ 300 milhões no banco e presença garantida na lista de celebridades mais ricas do mundo elaborada pela revista "Forbes"? Então imagine o impacto da notícia, divulgada no ano passado, de que o superastro estaria construindo um abrigo subterrâneo de US$ 10 milhões no subsolo de sua mansão no Colorado. Segundo o relato publicado pela revista "Star", Cruise estaria convicto de que a Terra experimentará um contato potencialmente devastador com uma raça alienígena em 2012. Um porta-voz do ator desmentiu a notícia, mas o estrago foi feito. A história do bunker de Tom Cruise circula a todo vapor pela internet. Os adeptos do debate formam um grupo de tamanho indefinido, que se espalha por todos os continentes, e que acredita que a vida em nosso planeta vai mudar, para pior ou para melhor, em 21/12/2012.
Nessa data se encerra um calendário que era usado pelos antigos maias no auge da sua civilização. Por isso, todo o movimento envolvendo o ano de 2012 é chamado genericamente também de "profecia maia". Enquanto o tal dia não chega, a turma se prepara consumindo livros, documentários, DVDs e palestras. Uma busca pelos termos "2012" e "maya" (em inglês) no Google revela mais de 2 milhões de citações. Isso é a ponta do iceberg de uma riquíssima comunidade, estruturada em centenas de blogs, fóruns, sites, portais e até uma versão particular da Wikipédia, o "2012wiki". Em fevereiro foi lançado nos EUA "2012 - Doomsday" ("2012 - O Dia do Juízo Final") e dois outros filmes devem sair até 2010, um deles sob a batuta do diretor de "Independence Day" (1996), Roland Emmerich. Nos últimos dois anos, pelo menos 18 livros sobre o tema chegaram às prateleiras nos EUA, boa parte com termos como "apocalipse" e "cataclisma mundial" em seus títulos. Por aqui, só no primeiro semestre deste ano foram publicadas três obras.
Paranóia: rumores dão conta de que Tom Cruise mandou construir um abrigo antiapocalipse. Seus assessores negam a história
Essa popularidade é o ponto culminante de um processo que começou há duas décadas. Em 1984, o americano José Arguelles publicou "O Fator Maia". Nele mesclava seus estudos sobre o fim do calendário maia com suas próprias idéias apocalípticas. Arguelles disse que a data marcaria o fim do ciclo do Homo sapiens e o início de uma época ecologicamente mais harmoniosa. E conclamou os leitores a se reunirem em várias partes do mundo nos dias 16 e 17 de agosto de 1987 para meditar e rezar, dando um pontapé inicial para o grande dia que ainda estava 25 anos no futuro. Esse evento, batizado de Convergência Harmônica, atraiu grande atenção da mídia americana e ganhou o apoio de celebridades como a atriz Shirley McLaine. "Arguelles se inspirou em um livro de ficção para criar a convergência harmônica, mas foi ela quem deu início à onda de 2012", afirma Robert Sitler, especialista em cultura maia da universidade Stetson, nos EUA. Arguelles ganhou fama e deu início a um movimento com seguidores no mundo inteiro, inclusive no Brasil. E a New Age ganhou sua própria dimensão profética.

Convergência harmônica: grupo liderado por José Arguelles espera por 2012 desde 1987
Teorias à la carte
De lá para cá, só fez crescer o número de pessoas que têm desenvolvido suas próprias especulações sobre o que vai acontecer na data tão esperada. E para isso vale recorrer a todas as ferramentas. Um belga utilizou a matemática e a mitologia para fazer uma análise comparativa das civilizações maia e egípcia. Concluiu que as duas são originárias de Atlântida e que o fim do mundo será causado por uma mudança no campo magnético da Terra, relacionada ao ciclo de manchas solares. Um ufólogo calculou a distância entre a linha do Equador e a cidade americana de Roswell, onde um disco voador teria caído. Encontrou o valor de 2.012 milhas - sinal, acredita, de que a queda do óvni foi uma mensagem cifrada sobre a data em que os ETs irão se revelar. Outro americano usou drogas psicodélicas e um computador para analisar o I Ching e concluiu que o livro é um calendário de eventos que prevê o fim da história humana em novembro de 2012 (a data foi ajustada depois). Um matemático, também usando um software, encontrou uma profecia codificada no Antigo Testamento falando de um asteróide (ou cometa) que atingiria a Terra. Um jornalista preferiu compilar os dados sobre vulcanismo, terremotos, queda de asteróides, radiação vinda do espaço etc. e concluiu que todos esses eventos devastadores têm forte possibilidade de acontecer em um futuro muito próximo. E é essa discussão, onde cabe tudo, que está entupindo a internet e as prateleiras. "Há muito pouco de maia nessa história. Essas profecias nada têm em comum, exceto o fato de se referirem à mesma data e apostarem numa transformação radical", diz Sitler.
Para o pesquisador inglês Joseph Gelfer, a aposta na mudança seria uma chave para entender essa onda. Gelfer estuda o interesse por 2012 na Austrália e lembra que profecias existem em muitas culturas. "Mas elas se situam num futuro longínquo, não são iminentes. Essa idéia também faz com que algumas das piores características dos nossos tempos, como as guerras ou a mudança climática, sejam vistas como etapas para a transformação", diz.
Outro fator importante é o grande volume de informação pseudocientífica. "Muitos dos que rejeitam os conceitos New Age se interessam pelas profecias de 2012. A maior parte do que se diz sobre o assunto é apresentado como o resultado de rigorosa pesquisa, mas são, na verdade, idéias questionáveis ou pura especulação."
Nas próximas páginas, você vai saber o que os cientistas dizem sobre alguns dos cenários mais debatidos pela comunidade de 2012. E descobrirá o que os próprios maias escreveram sobre a data.
MITO #1>>>RESGATE ALIENÍGENA
Quem crê em extraterrestres vê esperança da sua chegada à Terra nas profecias de 2012

Cena de sonho: será que um dia faremos contato com os ETs?
Talvez o grupo que tenha mais esperanças positivas para 2012 seja o dos apaixonados por óvnis. Não dispensam o temor de um cataclisma, mas acreditam que a data irá inaugurar uma nova era para a humanidade, marcada pelo contato com os ETs. Eis um exemplo típico de profecia ufológica, colhida entre as centenas de sites que debatem o tema: "Crescem os rumores de que civilizações extraterrestres estão preparando um evento espetacular em 2012. Ninguém sabe ao certo o que os maias realmente esperavam para o iminente cataclisma. Mas agora muitos centros de pesquisa crêem que a Terra passará por um grande perigo em 2012 e depois. No momento certo, avançadas civilizações extraterrestres resgatarão a civilização humana. De acordo com pesquisadores, a Federação do Universo, representando todas as 88 constelações, virá oficialmente visitar a Terra. Isso porá um fim à ocultação de óvnis em todos os continentes".
O editor da revista "UFO", Claudeir Covo, vê tudo isso com o senso crítico de quem estuda ufologia há 42 anos. "Em 1999, também havia uma grande expectativa de contato. Isso só serviu para mostrar o quanto de fantasia ainda existe." Ele descarta os relatos daqueles que dizem ter sido avisados pelos próprios ETs de que 2012 será o ano em que faremos contato. "Já conheci e entrevistei quem alega se comunicar com alienígenas. Nunca vi uma evidência que me convencesse." Covo lembra de um caso ocorrido no ano passado. Sua revista publicou o relato de uma pessoa que afirmava ter recebido uma mensagem assegurando o contato iminente. "Evidentemente, nada aconteceu e a pessoa sumiu. Não acho que vá acontecer algo em 2012."
  MITO #2>>>PROFECIA MAIA
Textos originais são vagos e dão margem a todo tipo de interpretação. Foi o que bastou para a sua usurpação e a criação do mito contemporâneo sobre o Apocalipse


O calendário de conta longa é apenas um entre os vários que os maias usavam. Assim como os nossos meses, anos e séculos, ele se estrutura em unidades de tempo cada vez maiores. Cada 20 dias formam um "mês", ou uinal. Cada 18 uinals, 1 tun, ou "ano", cada 20 tuns faziam um katun e assim sucessivamente. Enquanto o nosso sistema de contagem de séculos não leva a um fim, o calendário de conta longa maia dura cerca de 5.200 anos e se encerra na data 13.0.0.0.0, que para muitos estudiosos (não há um consenso a respeito) corresponde ao nosso 21/12/2012.
Isso não significa que eles esperassem pelo fim do mundo naquele dia. "Os povos ameríndios não tinham apenas uma concepção linear de tempo, que permitisse pensar num fim absoluto", diz Eduardo Natalino dos Santos, professor de história da América Pré-hispânica da USP. Ele diz que há textos míticos maias que falam em idades anteriores ao aparecimento da humanidade atual, e afirmam que a era atual duraria 5.200 anos. "Mas em nenhum lugar se diz que o ciclo que estamos vivendo seria o último." A maioria dos estudiosos acredita que, após chegar à data final, o calendário se reiniciaria. Assim como, para nós, o 31 de dezembro é sucedido pelo 1 de janeiro, para eles o dia 22/12/2012 corresponderia ao dia 0.0.0.0.1.
Entre os milhares de textos maias conhecidos, há apenas um que faz menção à data. Uma inscrição encontrada na ruína de Tortuguero (Costa Rica) diz que nela virá à Terra Bolon Yokte K'u, deus associado à guerra e à criação. Um indício indireto da mesma profecia está nos "Livros de Chilam Balam". Escrita por vários autores após a conquista espanhola, a obra traz previsões para os katuns que, num outro sistema de contagem de tempo, se repetem a cada 256 anos. Para o katun associado a 2012, o livro prevê a chegada de vários seres, entre eles "aquele que vomita sangue" e o deus Kukulcan, muito popular na América Central.
Mas mesmo esses textos talvez não correspondam ao que entendemos por profecias. Natalino diz que, embora os maias tivessem uma visão qualitativa do tempo - havia períodos "benéficos" e "maléficos" - isso não implica que fossem fatalistas. Os finais dos ciclos eram datas religiosamente importantes, pois num deles a idade atual poderia terminar. "Mas os sacerdotes podiam realizar certas práticas que assegurassem a continuidade do mundo", explica Natalino. Ele diz que no período colonial e depois houve rebeliões populares inspiradas pelas profecias de Chilam Balam. "Mas basta dar um pulo à América Central para ver que os maias de hoje estão cheios de projetos e nem um pouco preocupados com 2012."
UM OUTRO OLHAR SOBRE O TEMPO
Conheça as diferenças entre o calendário gregoriano, adotado no Ocidente, e a maneira usada pelos maias para medir o tempo
FOLHINHA
Como os maias registraram 27/12/724
  
 MITO #3>>>INVERSÃO MAGNÉTICA
Mais uma carga de lenha na fogueira de 2012: suposto enfraquecimento do campo magnético terrestre levaria à incidência letal de partículas solares
A luz e o calor produzidos pelo Sol tornam a vida na Terra possível. Mas, se não fosse pelas defesas que temos contra a radiação e o fluxo de partículas que chegam continuamente vindos da estrela, também não estaríamos aqui agora. Uma das principais defesas de nosso planeta é o seu campo magnético. Explicando de maneira simples, ele possui dois pólos, um norte e outro sul, que atualmente se situam mais ou menos perto dos pólos geográficos. Mas os geofísicos sabem que, de tempos em tempos, as polaridades se invertem, isto é: o ponto onde fica o pólo sul magnético se torna o ponto do pólo norte, e vice-versa. "Sabemos que centenas de inversões aconteceram no passado, mas não se sabe o que as causa", diz Eder Molina, professor do Instituto Astronômico e Geofísico da USP. A mais recente inversão ocorreu há 700 mil anos. E a próxima talvez esteja a caminho. "Sinais sugerem que alguma coisa está acontecendo. A intensidade do campo entre os pólos norte e sul está diminuindo. Acredita-se que essa diminuição possa ser parte de um processo de reversão, embora isso seja apenas uma hipótese."
A ocorrência de uma inversão súbita dos pólos magnéticos terrestres é um dos cenários apocalípticos previstos para 2012. Será isso que os cientistas estão detectando? "Não", diz Molina. "Os indícios sugerem um processo muito gradual, que levará talvez milhares de anos. Nós conhecemos muito bem o campo magnético terrestre, graças ao mapeamento feito por observatórios e satélites. Essas informações nos ajudam, por exemplo, a procurar petróleo e minerais valiosos. Se uma mudança brusca estivesse ocorrendo, já teria sido detectada." Molina afirma que veríamos muitos sinais, sob a forma de problemas nas telecomunicações e o desligamento de usinas elétricas. Não haveria como esconder um problema desses, pois o que estaria em jogo seria a sobrevivência da civilização. Mas não vemos nada disso por aí.
ESCUDO DE FORÇA
Entenda a atuação do campo magnético terrestre e suas variações imprevisíveis
 MITO #4>>>CICLOS SOLARES
Aparente hiperatividade do astro alimenta especulações sobre bombardeio radioativo. Mas a estrela está se comportando conforme o previsto
Muitos dos cenários para 2012 baseiam-se na idéia de que o Sol estaria passando por um período de atividade sem precedentes. Os defensores dessa tese ressaltam o fato de que, entre 28 de outubro e 4 de novembro de 2003, ocorreram algumas das maiores explosões solares já registradas. Em 20 de janeiro de 2005, a Terra registrou o maior bombardeio de partículas de alta energia oriundas do Sol. Como 2005 foi o ano do furacão Katrina, há quem vincule os fenômenos, sugerindo que o clima é governado por variações na atividade solar. Como a previsão dos astrofísicos é de que 2012 registre um ponto de alta atividade em nossa estrela, há quem acredite que a soma de tudo isso seja uma catástrofe.
As variações na atividade solar são causadas por mudanças na configuração do campo magnético que ocorrem a cada 11 anos. Para Adriana Silva Valio, pesquisadora do Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie, basta dar uma olhada nos dados dos últimos oito anos para ver que o Sol tem se comportado normalmente. De lá para cá, a atividade reduziu-se, e a tendência é que, nos próximos anos, volte a se intensificar, alcançando patamares elevados em 2012. Tudo isso está dentro do esperado.
O decréscimo da atividade aconteceu mesmo com as superexplosões de 2003. "O fato é que a tecnologia para acompanharmos o fenômeno é muito recente. Talvez eventos semelhantes tenham acontecido no passado", afirma Adriana. Ela também diz que o ciclo solar de 11 anos, por si só, não parece ser capaz de afetar significativamente o clima da Terra. "No ponto de maior atividade, a quantidade de energia solar recebida pela Terra cresce apenas 0,1%."
Porém, ela diz que fatores desconhecidos e ligados ao Sol parecem sim afetar o clima na Terra. "No século 18, o Sol não apresentou manchas por sete décadas. O mundo ficou mais frio, e os canais de Veneza congelaram. Mas parece que para que mudanças assim ocorram levam décadas ou mesmo séculos", diz.

USINA DE ENERGIA
Diferença de velocidade na rotação do astro faz com que a atividade solar varie em ciclos de 11 anos
MITO #5>>>NIBIRU
Hipotético décimo planeta do Sistema Solar (há quem diga que se trata de uma outra estrela) estaria rumando de encontro à Terra. Acredite se quiser? Melhor não
Muito antes que a data de 21/12/2012 começasse a tocar corações e mentes, o israelense Zecharia Sitchin começou a divulgar suas idéias sobre a origem da Terra, inspiradas, segundo ele, na decifração de antigos textos babilônicos. De acordo com Sitchin, há em nosso sistema solar um objeto que a ciência moderna desconhece e que os antigos chamavam de Nibiru. Esse objeto, que pode ser um planeta ou uma pequena estrela, passaria próximo ao Sol a cada 3.600 anos. Sitchin afirma que, em uma dessas passagens, uma colisão entre um de seus satélites e um planetóide que existia entre Marte e Júpiter teria dado origem à Terra. Outros autores passaram a usar as idéias de Sitchin nos anos 1990. Eles dizem que Nibiru vai passar por perto de nosso planeta em 2012, e a atração gravitacional entre os dois resultará em dilúvios e terremotos.
Para Carlos Henrique Veiga, astrônomo do Observatório Nacional, é possível que existam planetas ainda desconhecidos no Sistema Solar. Poderiam ter, inclusive, algumas das características atribuídas a Nibiru, como um período muito longo e órbita extremamente elíptica. "Mas as órbitas de planetas não se sobrepõem umas às outras. Esse cruzamento só ocorre com cometas e asteróides." Quanto à segunda possibilidade, a de que Nibiru seria uma estrela se escondendo nas vizinhanças, Veiga diz que sua presença causaria uma alteração na dinâmica do Sistema Solar. "Tanto ela quanto o Sol teriam que girar ao redor de um centro de massa. Os planetas girariam em torno das duas ou desse novo ponto central. Não é isso que estamos vendo", afirma.
Outro cenário sugere que, em 21/12/2012, o Sol, ao nascer, estaria alinhado com o plano da Via-Láctea. Nessa posição, receberia algum tipo de irradiação misteriosa vinda do centro da galáxia. Essa informação, porém, é contestada até por autores de populares livros sobre 2012, como o astrônomo John Major Jenkins. O que é verdade é que o Sol está cruzando o plano da nossa galáxia, mas isso não é motivo para preocupação. "O centro da Via-Láctea está a quase 30 mil anos-luz de distância. Por isso, esse posicionamento não deverá trazer maiores conseqüências. No máximo, pode favorecer a atração de cometas e asteróides em direção ao Sol", diz Veiga.
A GRANDE VIAGEM
Os astrônomos nunca o observaram, mas há terráqueos que juram já ter visto Nibiru viajando pelo Cosmos
 
A órbita de Nibiru cruzaria com a da Terra em 2012
 
PARA LER
Apocalipse 2012, Lawrence Joseph. Editora Pensamento
O Cataclisma Mundial em 2012, Patrick Geryl. Editora Pensamento
O Fator Maia, Jose Arguelles. Editora Cultrix
      REVISTA GALILEU

O MUNDO NAO VAI ACABAR EM 2012


SÃO PAULO – Por meio de um relatório, a Agência Espacial Americana esclarece as dúvidas dos internautas e afirma: o mundo não acaba com o fim do calendário Maia.
O aviso foi dado depois que um site mantido pela NASA foi inundado de perguntas de internautas a respeito de um misterioso planeta chamado Nibiru e do fim do mundo programado para 21 de dezembro de 2012.

A página em questão se chama “Ask an Astrobiologist”, e é mantida por David Morrison como parte de seus trabalhos como Cientista Sênior do Instituto de Astrobiologia da NASA. Nela, o público pode perguntar o que quiser e, ultimamente, foram mais de mil e-mails voltados para as previsões apocalípticas.
Na internet os boatos mais recentes do apocalipse entrelaçam uma complexa trama de provas e evidências que levam a crer que o fim dos tempos será no dia 21 de dezembro de 2012 – ou, mais precisamente, o fim do calendário Maia.
A civilização pré-colombiana surgiu no México há mais de três mil anos, e é conhecida por suas habilidades astronômicas, incluindo a divisão do calendário em 365 dias e a previsão de eventos como eclipses.
A causa dessa destruição prevista nos atuais boatos espalhados na internet seria Nibiru, também chamado de Planeta X, um corpo celeste que teria sido descoberto pelos sumérios. O impacto com a Terra seria precisamente na data em que o calendário Maia termina (numa analogia ao “fim dos tempos”) – e o fato estaria sido mantido em segredo pelo governo.
O que parece ter alimentando mais ainda alguns boatos é o lançamento de um filme de Hollywood chamado de “2012”, que estreou nos Estados Unidos em novembro. Como parte da campanha de lançamento, a Columbia Pictures criou um site de uma suposta organização para a continuação da humanidade, que reúne evidências de que o mundo realmente acabará em três anos.
Para tentar esclarecer essas especulações, o Dr. Morrison rastreou as origens do que chama de mitos e respondeu aos internautas em seu site. As dúvidas mais freqüentes foram publicada pela Associação Astronômica do Pacífico.
Segundo ele, o boato de Nibiru teve sua origem com Zecharia Sitchin, autor de livros de ficção sobre as antigas civilizações mesopotâmicas. Em algumas de suas obras, entre elas “The Twelfth Planet” publicado em 1976, ele afirma ter encontrado e traduzido documentos sumérios que identificavam o planeta orbitando o Sol a cada 3.600 anos. Essas fábulas incluíam histórias de antigos astronautas que visitavam a Terra, vindos de uma civilização alienígena chamada Anunnaki.
Em paralelo, uma auto-declarada psíquica chamada Nancy Lieder alegou ter um canal com os ETs. Ela escreveu em seu site Zetatalk que os habitantes de um suposto planeta ao redor da estrela Zeta Reticuli a avisaram de que a Terra corria perigo de ser atacada pelo Planeta X, ou Nibiru. A catástrofe foi inicialmente prevista para maio de 2003, mas quando nada aconteceu, a data foi mudada para dezembro de 2012.
Segundo Dr.Morison, apenas recentemente essas duas fábulas foram ligadas ao fim do calendário Maia, no solstício de inverno de 2012.
O cientista esclarece também que as fotos ou evidências apresentadas na internet são falsas. Uma das imagens mais populares do que seria Nibiru se trata, na verdade, de uma nebulosa de gás fora do sistema solar fotografada pelo telescópio espacial Hubble.
Quanto aos Maias, Morison afirma que a sociedade realmente desenvolveu calendários bastante complexos, mas que, apesar do interesse histórico que possamos ter, eles não se comparam a habilidade moderna de contagem do tempo, ou à precisão dos calendários modernos. E, o mais importante: estes instrumentos não podem prever o futuro.
Quanto ao fim do calendário estar ligado ao fim do mundo, ele faz uma comparação: o calendário de mesa de qualquer pessoa termina muito antes de 21 de dezembro de 2012 – ele acaba em 31 de dezembro de 2009. Mas ninguém interpreta isso como uma previsão do Armageddon – é apenas o começo de um novo ano.

11 maio 2011

FIBONACCI E O PHI

Tudo começou com um problema aparentemente banal: Quantos pares de coelhos podem ser gerados de um par de coelhos em um ano?
O matemático italiano Leonardo Pisano (de Pisa), cujo apelido era "Fibonacci", ao resolver esse problema, transcreveu o que seria uma das seqüências mais instigantes da matemática, que entrou para a história como a seqüência fibonnaci (série de números infinitos onde cada número é a soma dos dois anteriores onde os primeiros números são 0 e 1)
1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, ...
Essa seqüência aparece na natureza, no comportamento da refração da luz, dos átomos, do crescimento das plantas, nas espirais das galáxias, dos marfins de elefantes, nas ondas no oceano, furacões, etc.
Vejamos um exemplo:
Certas plantas mostram os números de Fibonacci no crescimento de seus galhos, como a Achillea ptarmica, enquanto outras regulam a posição ou número de suas folhas ou pétalas pela mesma seqüência.
A beleza desta seqüência é que seu resultado visual é pura... beleza. Dividindo dois termos consecutivos da sucessão (o número maior pelo menor) vamos obter as sucessivas aproximações de PHI (34:21 = 1,619) (89:55 = 1,618)
A escola grega de Pitágoras estudou e observou muitas relações e modelos numéricos que apareciam na natureza, na beleza, na estética, na harmonia musical e outros, e entre elas uma se destacou: 1.618033988749895. Esta razão foi muito usada por Phidias (um escultor grego), e em função das primeiras letras de seu nome usamos Phi para representar o valor numérico do que conhecemos como razão dourada ouproporção Divina, pois os antigos achavam que este era um número predeterminado pelo Criador do Universo.
Se você dividir o número de fêmeas pelo número de machos de qualquer colméia do mundo, sempre vai obter PHI.
A razão de cada diâmetro da espiral do Náutilo (Molusco que bombeia gás para dentro de sua concha repleta de câmaras pra poder regular a profundidade de sua flutuação) para a seguinte também é PHI (1,618).
- A proporção de abelhas fêmeas em comparação com abelhas machos numa colmeia é de 1,618;
- A proporção que aumenta o tamanho das espirais de um caracol é de 1,618;
- A proporção em que aumenta o diâmetro das espirais sementes de um girassol é de 1,618;
- A proporção em que se diminuem as folhas de uma árvore a medida que subimos de altura é de 1,618;
- E não só na Terra se encontra tal proporção. Nas galáxias as estrelas se distribuem em torno de um astro principal numa espiral, obedecendo a proporção de 1,618. Também por isso, o número Phi ficou conhecido como A DIVINA PROPORÇÃO.

Podemos ver PHI espalhado por todo o nosso corpo: Meçam a distância que vai do alto da cabeça até o chão, depois dividam o resultado pela distância do umbigo até o chão. O que vão encontrar?
Meçam a distância de um ombro até a ponta dos dedos, depois dividam-na pela distância entre o cotovelo até a ponta dos dedos. Resultado?
Ou mesmo tentem medir a distância dos quadris até o chão, e dividir pelo joelho até o chão. Verão PHI nos nós dos dedos, nos artelhos, na divisão da coluna vertebral...
Obviamente os artistas utilizaram esta propriedade para obter harmonia e beleza em suas obras, como nas pirâmides do Egito, no Paternon grego, na Quinta Sinfonia de Betethoven, etc.
VEJA O VIDEO A SEGUIR

O MELHOR REMÉDIO É MORRER DE RIR

Pode uma risada ao dia manter o ataque cardíaco à distância? Talvez sim.
Risos, combinados a um bom senso de humor, podem ajudar a proteger contra um ataque cardíaco, segundo um recente estudo por cardiologistas da Universidade de Maryland, em Baltimore. No estudo descobriram que pessoas com doenças cardíacas eram 40% menos propensas a rir em uma variedade de situações em relação às pessoas da mesma idade sem doença cardíaca.
"O velho ditado de que rir é o melhor remédio definitivamente parece ser verdade quando se trata de proteger o seu coração", disse Michael Miller, diretor do Centro de Cardiologia Preventiva da Universidade de Maryland e professor de medicina na Maryland School of Medicine. "Nós não sabemos ainda por que rir protege o coração, mas sabemos que o estresse mental está associado à disfunção do endotélio, uma barreira protetora que reveste nossos vasos sanguíneos. Isto pode causar uma série de reações inflamatórias que levam à formação de gordura e colesterol nas artérias coronárias e, por fim, a um ataque cardíaco."
No estudo, os pesquisadores compararam as respostas de humor de 300 pessoas. Metade dos participantes tinha ou sofrido um ataque cardíaco ou passado por uma cirurgia de revascularização do miocárdio. Os outros 150 não tinham doença cardíaca.
Num dos questionários havia uma série de respostas de múltipla escolha para descobrir o quanto ou quão pouco as pessoas riram em determinadas situações; no outro, respostas de verdadeiro ou falso para medir a raiva e hostilidade. Miller disse que a conclusão mais significativa do estudo foi que "as pessoas com doença cardíaca responderam com menos humor às situações da vida cotidiana". Eles geralmente riram menos, mesmo em situações positivas, e demostraram mais raiva e hostilidade.
"A capacidade de rir - seja naturalmente ou como um comportamento aprendido - pode ter implicações importantes nas sociedades, como nos EUA, onde a doença cardíaca continua a ser o assassino número um. Nós sabemos que o exercício, não fumar e comer alimentos com baixo teor de gordura saturada reduz o risco de doença cardíaca. Talvez o riso, regular e saudável, deva ser adicionado à lista". Miller diz que pode ser possível incorporar as risadas em nossas atividades diárias, assim como fazemos com outras atividades saudáveis para o coração, como tomar as escadas em vez do elevador: "Poderíamos, talvez, ler algo engraçado ou assistir a um vídeo engraçado e tentar encontrar maneiras de não nos levar tão a sério".

A ARVORE DA VIDA- MATRIX

Ao lado, vemos o diagrama da Êtz háim (Árvore da Vida), que se presta a várias interpretações, dentro da Cabalá. Ela é constituída por 10 Sefiroth (que significa literalmente contagem, mas acabou sendo usado comoesferas ou emanações). No livro Zohar vemos que cada Sefira representa um atributo divino, os quais devemos adquirir em nossa jornada de evolução.
A contagem começa de cima para baixo, pois o 1 deve ser a Unidade, o Divino, que é representado por Kether (Coroa), a esfera do topo. A 2ª é Hockmah (Sabedoria), a 3ª Binah (Entendimento), a 4ª Hessed (Misericórdia), a 5ª Guevurah (Força, Severidade), a 6ª Tifereth (Beleza), a 7ª Netzach (Vitória), a 8ª Hod (Glória), a 9ªYesod (Fundamento) ou Tsedek (Justiça) e a 10ª Malkuth (Reino).
Clicando aqui você acessa uma imagem detalhada da árvore da vida, com várias simbologias em cada Sefira e nos caminhos entre elas.
Perdoem-me os cabalistas, mas permitam que seja feita aqui uma interpretação mais personalizada da Árvore da Vida, que representaria os vários níveis de entendimento de Deus, de forma consciencial e teosófica, através dos tempos:
Malkuth equivaleria à consciência do Ego, com suas necessidades imediatas. É onde a maioria da humanidade infelizmente se encontra, que não enxerga além do seu próprio umbigo. Note que Malkuth está deslocada em relação ao conjunto harmônico das outras esferas. A filosofia do "Malkuthiano" é "Deus cuide dos assuntos dele lá em cima, que eu cuido dos meus aqui embaixo".
Acima dela temos Yesod, onde adquirimos as bases para a caminhada em direção ao Divino: a noção de justiça, o "dai a César o que é de César e dai a Deus o que é de Deus". Também exercitamos o contato com o mundo imaterial: os sonhos, as premonições. Descobrimos que a nossa realidade não é a única realidade, que não estamos sós no universo. Nos desvencilhamos um pouco das amarras do mundo físico. Adquire-se a percepção do EU como reflexo divino (Como podem notar, Malkuth está espelhado em relação a Kether). Na Guematria vemos essa confirmação, pois o Nada (que se refere ao Divino) em hebraico é AIN, e, invertendo as letras, temos ANI, que quer dizer Eu.
Subindo mais, temos Netzach, que representa a eternidade, a vitória sobre o tempo e o espaço e a onipresença do Divino. No outro lado vemos Hod, que é a majestade e a glória do Divino. Em ambos temos a comprovação intima de Deus, onde reconhecemos o quanto somos pequenos e indefesos. É nessa fase que muitos se apegam a uma linha religiosa.
Temos então Tiferet, onde admiramos as obras da criação, vendo Deus em tudo e em todos, deslumbrados como um turista que visita um local pitoresco. É onde estão certas religiões que pregam com entusiasmo "Shiva é maravilhoso!" ou "Jesus é 100%!" e não vão muito além disso.
Guevurah é a fase do Deus implacável e vingativo, que podemos encontrar em toda a Torah, onde o respeito é conseguido através da força e da severidade. Chesed é o Deus de amor, que Jesus veio trazer ao mundo. O "papai" em vez de "O impronunciável".
Acima desses dois extremos, temos a esfera que não é esfera, Daat. Ela permanece invisível, localizada entreBinah e Hockmah, e está associada ao conhecimento. Note que esta escalada pode se dar de duas formas: Ao meditar no conhecimento você adquire o entendimento (Binah) e depois vem a aplicação desse entendimento na sua vida (sabedoria). Ou você pode ir direto para o uso do conhecimento (sabedoria) e só depois ele estará introjetado na sua vida (entendimento). Assim é a vida. Não existe UM caminho, assim como não existem duas vidas iguais.
Dá o que pensar o fato de Daat não ser de fato uma esfera. Sugere que o conhecimento vem de fora (um Mestre), mas também que o conhecimento por si só não é um atributo Divino. Muitos o têm, e o utilizam para o mal. Existem também aqueles com vasto conhecimento e que não entendem de fato o que aprenderam. Os Fariseus eram ótimos exemplos, eram doutores da Lei, mas não penetravam sua essência, apegados que estavam à forma e à palavra (até hoje há religiões que seguem tudo ao pé da letra, vocês sabem...). O conhecimento é importante sim, mas como uma ponte para o entendimento e a sabedoria.
Kether é a primeira emanação do Divino. O Supremo Nada, a origem de tudo. É onde a criatura se funde ao Criador, retornando ao seu estado mais puro. Seria a iluminação? Não sei...
As 10 Sefiroth são ligadas por 22 caminhos, e constituem as vias pelas quais a Luz infinita e a força criadora fluem. Imaginem Kether como a taça da mais pura água, que transborda e derrama para as taças abaixo, adquirindo em cada uma um sabor. À medida que transbordam, vão influenciando o sabor das outras mais abaixo. Nós estamos em Malkuth: a última esfera. A mistura de todos os sabores, e ao mesmo tempo nenhum sabor específico. Mas ainda assim é composta basicamente de água (Kether). Quem conseguiu provar dos sabores das taças superiores sente que está mais próximo da verdadeira essência, e se torna um especialista em identificar esse sabor no aparente caos que é Malkuth: O ponto mais baixo da escalada.
Temos a comprovação cabal quando pegamos o número 1 do Kether e o 10 de Malkuth.
Mas antes, vamos analisar um dos nomes Divinos: AIN SVP AVR (Ain Soph Or), que significa Luz infinita. AIN se traduz como o "nada", no sentido de indefinível, imanifesto. O que simplesmente É. São 9 letras, que simbolizam as 9 primeiras Sefiroth. Não podemos ir adiante sem voltarmos ao início (o 1) e ao "nada" (AIN), na forma de10. Assim, "Kether está em Malkuth, e Malkuth está em Kether", como atesta um dos aforismas cabalísticos. O Rabi Shimon confirma: "O mundo inferior foi feito à imagem do mundo superior. O inferior não é senão o reflexo do superior, para que a unidade seja perfeita". E isso nos remete à Platão e sua Alegoria da caverna...
Apesar de ter características diferenciadas, as dez Sefiroth constituem uma unidade, assim como as cores do arco-íris podem ser formadas de uma única fonte de luz.
Como podemos perceber pelos "caminhos" entre as Sefiroth, há opções para se ir a uma esfera mais alta sem passar por uma intermediária, mas vai depender das escolhas de cada um, escolhas que fazemos aqui na Terra. E, como também podem perceber pelo diagrama, são muitos os caminhos para Deus. Caminhos de extremos ou de equilíbrio. Mas notem que o caminho do equilíbrio (do meio) é o mais "curto".